sábado, 16 de outubro de 2021

ESCÓCIA SOBRENATURAL – Episódio 4


Nas colinas de Ross-shire¹, um velho homem, que no seu tempo não fora propriamente gentil, falecera na casa do filho, uma cabana solitária, afastada das restantes casas.

O morto foi colocado numa mesa dum pequeno quarto, e o seu filho pastor, deixando mulher e filhos na cabana, partiu para o vale à procura de pessoas para assistir ao velório e depois ao funeral.

À meia-noite, uma das crianças, que ainda brincava pela casa, espreitou pela fechadura do quarto e gritou: “Mãe, mãe! O avô está a levantar-se!”.

A porta do quarto foi num ápice trancada, e o falecido, apercebendo-se que não a conseguia abrir, começou por arranhar e depois escavar a terra por debaixo da porta, tentando abrir uma passagem para a sua fuga.

As crianças correram para junto da mãe, e em terror escutavam aquele som sinistro. 

Por fim, a cabeça do morto apareceu por debaixo da porta. O cadáver redobrou, então, os seus esforços para escapar, aumentando assim, se possível fosse, o horror da pobre mãe e das suas crianças.

O corpo já havia saído pela metade quando o galo cantou. Subitamente, o morto perdeu as suas forças, caindo inerte na própria cova que abrira.

Desde esse dia nunca mais se conseguiu cobrir totalmente aquele buraco. O chão da casa tinha sempre um declive nesse preciso lugar.







(Narrador anónimo. Editado pela primeira vez por J. G. Campbell, in “Witchtcraft and Second Sight in the Highlands and Islands of Scotland”, 1902.)









(Tradução de Pedro Belo Clara a partir da versão editada por Neil Philip em "Scottish Folktales", Peguin Books, 1995.)










(1) Um antigo condado escocês, cuja capital era Dingwall, uma cidade que actualmente alberga pouco mais que cinco mil habitantes. Situado nas Terras Altas, foi anexado administrativamente às regiões circundantes em 1975, adoptando, como as demais, essa mesma designação.











(Autor desconhecido)


Sem comentários:

Enviar um comentário