terça-feira, 23 de novembro de 2021

Três poemas de Amor (e seus derivantes, digamos assim) de W. B. Yeats


I. O PENOSO PARTO DA PAIXÃO



Quando a angelical, flamejante porta num clamor de alaúdes se escancara;
Quando uma paixão imortal respira em argila ao efémero fadada;
Nossos corações o flagelo suportam, a coroa de espinhos, a estrada
Povoada de amargos rostos, na palma e no flanco a escara,
A esponja pesada de vinagre, as flores dum ribeiro apaziguado;
Sobre ti debruçados, o cabelo deixaremos caído,
Para que um leve perfume se desprenda, de orvalho embebido,
Lírios de esperança em palidez mortal, rosas de sonho apaixonado.





II. O AMANTE FALA DA ROSA NO SEU CORAÇÃO



Todas as coisas incomuns e quebradas, todas as coisas gastas e ancestrais,
O choro duma criança na estrada, o ranger duma carroça em desconjunção,
Os pesados passos dum lavrador chapinhando os bolores invernais,
Mancham tua imagem que desponta uma rosa no fundo do coração.

O mal feito pelas coisas informes é maior do que se tem contado;
Anseio por recriá-las e sentar-me num verde monte em solidão,
Com a terra e o céu e a água refeitos, como um caixão doirado
Para meus sonhos de tua imagem que uma rosa abre no fundo do coração.





III. ELE OFERECE À SUA AMADA ALGUNS VERSOS



Prende o teu cabelo com um alfinete doirado,
Segura toda a madeixa vagabunda;
Ordenei que o coração compusesse estes versos banais:
Neles trabalhou todo o dia, dedicado,
Edificando uma triste graciosidade, profunda,
De batalhas de tempos ancestrais.

Basta ergueres tua mão de pálida pérola vestida,
Prender teu longo cabelo e suspirar;
E os corações de todos os homens ardem e se descompassam;
E a espuma como uma vela sobre a areia enegrecida,
E as estrelas subindo um céu d’orvalho a cintilar
Vivem somente para iluminar teus pés que passam.





William Butler Yeats (1865 - 1939)










(Versões de Pedro Belo Clara a partir dos originais publicados na obra The Wind Among The Reeds, primeiramente editada em 1899.)













(Retrato a carvão de Yeats por John S. Sargent - 1908)