(Tradução de Angélica Varandas in "Mitos e Lendas Celtas do País de Gales", Clássica Editora, 2012.)
segunda-feira, 16 de maio de 2022
A DONZELA DE LLYN-Y-FAN (3ª e última parte)
(Tradução de Angélica Varandas in "Mitos e Lendas Celtas do País de Gales", Clássica Editora, 2012.)
quinta-feira, 5 de maio de 2022
A DONZELA DE LLYN-Y-FAN (2ª Parte)
sexta-feira, 29 de abril de 2022
A DONZELA DE LLYN-Y-FAN (1ª Parte)
quinta-feira, 17 de março de 2022
HINO EM LOUVOR DE SÃO PATRÍCIO (excerto) - Parte II
terça-feira, 22 de fevereiro de 2022
O LAMENTO DE PADDY (*)
Pois o que tenho a contar deverão ouvir.
Estava eu pela fome agitado
E pela pobreza angustiado,
Quando decidi da Irlanda partir.
Vendi o cavalo e o arado que tinha,
As ovelhas, os leitões e uma porca minha;
Toda a quinta abandonei então,
E a minha Biddy McGee, bem-amada -
Que não voltará a ser beijada,
De tão partido que lhe deixei o coração.
Não venham para a América, seja novo ou velho!
Só tem guerra para vos oferecer
E o rugido dos canhões que nos faz enlouquecer.
Como em casa desejaria estar,
Na amada Dublin³, além-mar…
(Anónimo)
(Versão de Pedro Belo Clara a partir das versões mais comuns do
tema. Um desses exemplos poderá ser escutado aqui: https://www.youtube.com/watch?v=v55klRtHNZQ
Como se depreende após a sua leitura, o poema retrata a figura dum irlandês que exorta os seus conterrâneos a ficar no país natal e a não emigrar, assim, para a América, dado não ser o paraíso que poderiam pensar. Afinal, o país encontrava-se nessa altura imerso numa guerra civil e todo o emigrante que ali chegasse era de pronto recrutado e forçado a combater pela União (o Norte, digamos, o lado afecto ao presidente Lincoln, que lutava, pondo isto de modo simplista, pela abolição da escravatura). Era possível escapar ao recrutamento pagando uma determinada soma, mas esse valor, se era acessível a famílias abastadas, era incomportável para os mais pobres, especialmente os emigrantes que acabavam de chegar ao país. Assim, não haveria grande hipótese de fuga - até porque o respeito pelos irlandeses era, nesta altura, praticamente nulo, sendo notória a forma como ganhava expressão a típica estratégia utilizada quando a falta de homens é séria: a muito útil "carne para canhão". (E bem diferente poderia ter sido o desfecho do conflito se não fosse o precioso auxílio irlandês...)
É esta, portanto, uma das mais célebres canções de protesto contra a guerra civil americana (embora possa extrapolar esse conflito em específico) e o tratamento desumano concedido aos emigrantes que naqueles anos chegavam ao país em número elevadíssimo, especialmente os irlandeses, que ainda sentiam as agruras da sua Grande Fome. Esclareça-se que o nome do narrador, Paddy, é o diminuitivo de Patrick, um nome na Irlanda tão comum quanto José, por exemplo, o é em Portugal (graças ao santo padroeiro daquele país, que respondia pelo mesmo nome). Assim, o poema ganha uma dimensão universal, já que este "Paddy" não passa duma personagem-tipo, um esboço onde centenas, se não milhares, de irlandeses emigrantes poderiam reconhecer o próprio rosto.
Resta acrescentar que, como é comum nos cancioneiros populares, existem diversas versões deste tema, com maior ou menor número de referências em comum. A primeira parece remontar a 1864, da autoria de John R. Dix, um escritor inglês que vivia nos Estados Unidos, e que foi o autor dum poema chamado The Paddy Lament. Digamos, assim, que o Paddy's Lamentation aqui partilhado é uma espécie de versão anónima desse poema. Talvez pelo facto de ter ganhado o estatuto de canção, o texto presente tenha granjeado maior fama e, de certo modo, prevalecido no tempo. Porém, importa lembrar que o tema esteve por várias décadas adormecido até ressuscitar, já no século XX, no... Canadá, imagine-se. É gravado em disco pela primeira vez em 1961, graças a um emigrante inglês que escutara e aprendera o tema da boca doutros emigrantes, irlandeses, que encontrara no Canadá. Assim, o poema-canção adquire, aos poucos, uma dimensão nunca antes tida e acaba sendo redescoberto no país que o viu nascer, os Estados Unidos.
Em 2002, no famoso filme Gangs de Nova Iorque, um excerto deste tema é interpretado, precisamente no momento em que vários irlandeses, envergando fardas da União, fazem fila para embarcar para uma zona de conflito. A cena é poderosíssima: enquanto uns embarcam, uma grua desembarca dum navio diversos caixões selados. Quem se importava realmente com a vida dum pobre emigrante irlandês?
(1) Abraham Lincoln (1809 – 1865) foi o décimo sexto presidente dos Estados Unidos da América, a quem coube em sorte o governo da ainda jovem nação durante a sua guerra civil – que opôs o norte ao sul do país. Com a vitória da União, aboliu-se no território a escravatura, uma das questões fulcrais do sangrento conflito. Foi assassinado, enquanto assistia ao lado da esposa a uma peça de teatro, por um simpatizante confederado (afeito ao sul, portanto), o não menos célebre John Wilkes Booth.
(2) O General Thomas Francis Meagher foi o líder do 69º
Regimento das tropas da União, uma unidade composta apenas por irlandeses de Nova
Iorque.
(3) Uma das principais cidades da Irlanda, actualmente a sua capital.
Don Troiani (1949 - ))
terça-feira, 25 de janeiro de 2022
ESCÓCIA SOBRENATURAL – Episódio 7
BRUXAS DISFARÇADAS DE OVELHAS
(Parte II)
De acordo com o seu próprio relato, Hector McLean, de Coll¹, vinha ao anoitecer de Arinagour² para Breachacha³ – uma distância de quatro milhas⁴ pelo que então era, na maior parte do troço, um trilho de montanha.
A meio caminho, em
Airidh-mhic-mharoich, uma ovelha negra correu ao seu encontro e atirou-o ao
chão. A certa altura, como os ataques repetiam-se, Hector conseguiu tirar do
bolso um canivete e com ele ameaçar a ovelha, afirmando que na próxima
investida não hesitaria em usá-lo. Contudo, a ovelha avançou uma e outra vez,
derrubando-o sempre. Numa das ocasiões em que tentava feri-la, o canivete
fechou-se sobre si mesmo, fazendo-lhe um corte profundo entre o indicador e o
polegar.
Ao chegar a uma ampla drenagem de águas a céu
aberto, uma espécie de riacho que corre por debaixo de Breachacha Garden, Hector
teve receio em atravessá-lo, não fosse a ovelha segui-lo e, investindo de novo
sobre si, atirá-lo para aquelas águas. Porém, já conseguia avistar a sua casa,
e com um assobio forte chamou o seu cão. Este veio e atacou ferozmente a
ovelha.
De cada vez que o cão chegava perto
demais, a ovelha tornava-se numa velha mulher, alguém que o Hector reconheceu,
e saltava no ar. Pediu ela que o homem mandasse o seu cão retirar-se, mas o
pedido foi recusado. Insistiu, prometendo desta vez que ficaria sua
amiga para o que desse e viesse. Por fim, Hector chamou o cão, mas este já não
obedeceu. Apanhou-o então pelo pescoço e tentou pará-lo, virando-o para si
mesmo. Prometeu que o seguraria, dando à mulher hipótese de fuga.
A bruxa transformou-se então numa lebre. Já que parecia ser mulher de grande poder, Hector, gritando, disse-lhe que acrescentasse uma perna extra à sua nova forma, para que assim pudesse correr mais depressa. Quando já se encontrava a uma distância considerável, Hector largou o cão, que de pronto a seguiu, e regressou a casa.
O cão só voltou
na tarde seguinte. Perseguira a lebre, obrigando-a a abrigar-se nas
reentrâncias duma rocha, e aí montara a sua guarda – até a fome vencer,
levando-o a regressar. Na primeira vez que o encontrou, a mulher repreendeu
Hector por ter deixado o cão fugir.
Mais tarde, quando foi prestar os seus serviços numa quinta em Arileod⁵, Hector voltou a avistar a tal mulher, de novo na forma de lebre, roubando o leite das vacas directamente do animal. O seu cão, sempre que se apercebia da presença da mulher, começava a persegui-la, obrigando-a a retomar a sua forma original.
Quando deixou a quinta, a mulher não
voltou a ser vista durante dias. Hector foi então à sua procura. Quando a
encontrou, acusou-a de ser a causa dos problemas que tinham ocorrido na
propriedade. A bruxa enfureceu-se, ameaçando puni-lo por levantar falsas
suspeitas. Hector disse-lhe que o proprietário oferecia uma recompensa a quem
descobrisse o responsável pelos maus eventos; e que se todas as mulheres de
Coll fossem reunidas num outeiro, o seu cão malhado a identificaria facilmente –
e assim seria, de pronto, considerada culpada.
Perante isto, a bruxa emudeceu.
Pediu-lhe o homem que fosse à vacaria da propriedade naquela noite, para que as
pessoas não dissessem que foi por sua culpa que o mal se instalara na quinta. A
bruxa desculpou-se dizendo que já era a noite de quarta-feira, e que nada poderia
fazer contra tal coisa, mas que na noite seguinte agiria de acordo com o
combinado, e que Hector ficaria a saber quando tal acontecesse.
Assim, na noite de quinta-feira, a mulher foi à vacaria de Arileod, soltou as vacas e deixou os bezerros entrar, provocando assim o maior prejuízo que lhe foi possível causar.
(Versão de Pedro Belo Clara a partir da edição de Neil Philip em "Scottish Folktales", Peguin Books, 1995.)
segunda-feira, 10 de janeiro de 2022
ESCÓCIA SOBRENATURAL – Episódio 6
Ao anoitecer, um homem de Tiree¹ estava a caminho de sua casa, no extremo oeste da ilha, levando na mão uma arma que havia adquirido recentemente.
Num dado momento, acima da praia a que chamam Travay, avistou uma ovelha negra a correr na sua direcção através da planície de Reef. Alarmado pelos movimentos do animal, colocou uma pequena moeda de prata na sua arma; quando a ovelha se aproximou o suficiente, o homem apontou-a ao animal.
A ovelha negra transformou-se naquele mesmo instante numa mulher, que ele de pronto reconheceu, com uma capa grosseira puxada até ao cimo da sua cabeça.
A mesma mulher havia-o perseguido antes, e por várias ocasiões, especialmente sob a forma de um gato. Ela pediu-lhe que o seu segredo ficasse bem guardado, e o homem prometeu que agiria de acordo com o combinado.
Porém, numa noite, estando ébrio na vila onde a mulher morava, acabou por contar a sua aventura e o nome da mulher nela envolvida. Em menos de quinze dias o homem morreu afogado, e a mulher, sobre quem já recaíam suspeitas de bruxaria, foi acusada de tal crime.