domingo, 14 de julho de 2019

GUTO BACH E AS FADAS


Em Llangybi¹, vivia um rapaz chamado Gruffydd, mas todos o conheciam como Guto Bach. 

Um dia, depois de ter levado as ovelhas de seu pai a pastar, disse à mãe que tinha estado no prado a brincar com crianças pequeninas. Intrigada, a mãe perguntou-lhe quem eram essas crianças, mas o jovem não soube responder. A mãe compreendeu imediatamente que eram fadas e proibiu-o de voltar ao prado para brincar com elas. Mas Guto tinha gostado de brincar com o Povo Pequeno e, por isso, um dia, desobedecendo à mãe, fugiu para o prado e não voltou mais. 

Passaram dois anos e a mãe de Guto Bach, ao abrir a porta de casa, encontrou o filho à entrada com uma trouxa debaixo do braço. Tinha exactamente o mesmo tamanho e vestia as mesmas roupas, como se não tivesse passado tempo algum.

«Onde estiveste, meu filho, durante todo este tempo?», perguntou ela.

«Mas não passou tempo nenhum, mãe. Saí para brincar com as crianças minhas amigas. Veja as roupas lindas que elas me deram.»

E, dizendo isto, abriu a trouxa e tirou de lá de dentro um vestido de papel. Mas a mãe, ainda assustada com o sucedido, queimou-o.

Pouco tempo depois do rapaz regressar, os seus pais perderam quase tudo o que tinham. Desesperados, lembraram-se de que se dizia que, numa enorme rocha, debaixo de um monte perto de Llangybi, estava escondido um grande tesouro. 

Muitos tinham experimentado mover a rocha, sem sucesso. Os pais de Guto Bach decidiram tentar também a sua sorte. Os vizinhos, com pena da sua situação, foram ajudá-los, levando cavalos para deslocar a rocha. Porém, esta não se moveu, apesar dos esforços dos homens e dos animais. Os pais de Guto Bach ficaram desolados. 

Vendo a tristeza dos pais, Guto Bach lembrou-se de que as crianças com quem brincava possuíam muito ouro e muita prata e, por isso, resolveu partir à procura delas.

Encontrou-as num prado a brincar, como de costume. Contou-lhes  sucedido e pediu-lhes se podiam despender algum do seu dinheiro para que pudesse ajudar os pais. Elas responderam que havia dinheiro suficiente debaixo da rocha. Guto afirmou que sabia disso, mas que ninguém a conseguia mover.

«Então, tenta tu movê-la e vê o que acontece», exclamaram as fadas.

Guto regressou a casa e contou aos pais o que as fadas lhe tinham dito. Os pais riram-se, pois não acreditavam que o filho conseguisse mover a pedra quando os homens mais fortes da região e os próprios cavalos tinham falhado. Ainda assim, não tinham nada a perder, por isso, concordaram. 

Levaram-no até à rocha e, assim que o rapaz lhe tocou, a enorme massa de pedra mexeu-se. Ele deu-lho um encontrão e a rocha rebolou para fora do local onde tinha estado, deixando a descoberto uma gruta onde Guto e os seus pais encontraram muitas moedas de ouro e de parta.

As fadas tinham-no recompensado pelos seus momentos inocentes de brincadeira.












(Conto extraído de "Os Tylwyth Teg ou Povo Belo".)














(Tradução de Angélica Varandas in "Mitos e Lendas Celtas do País de Gales", Clássica Editora, 2012.)
















(1) Pode referir-se a uma de três localidades que com o mesmo nome existem no País de Gales, todas elas situadas em diferentes distritos e erguidas em honra do santo católico Cybi ou Cuby, um bispo (e por um breve período Rei) que viveu no século VI da nossa era. 



















("Broken Wing",
de Lynne Bellchamber.)