segunda-feira, 17 de maio de 2021

NÓS OS TRÊS, HOMENS DAS TERRAS ALTAS


Três jovens oriundos das Terras Altas, há cerca de cinquenta anos atrás, partiram das colinas onde nasceram com a intenção de encontrar trabalho junto dos seus camaradas das Terras Baixas.

Sabiam falar mal o Inglês. Um deles dizia: “Nós os três, homens das Terras Altas”; o segundo continuava: “Por algumas moedas para pôr na bolsa”; e o terceiro, que correctamente havia aprendido a sua deixa, concluía: “É por justiça o nosso direito”. Assim pretendiam explicar a quem os interpelasse os motivos da sua jornada.

Os três arrastavam-se estrada afora rumo ao seu destino, quando num vale solitário avistaram o corpo de um homem que recentemente havia sido assinado. Os jovens pararam por um pouco junto do cadáver, lamentando tão triste fim.

De súbito, um cavalheiro que por ali passava na companhia do seu criado aproximou-se do local.

– Quem assassinou este pobre homem? – disse o nobre senhor.

– Nós os três, homens das Terras Altas – respondeu o mais velho, julgando que lhe perguntava quem eles eram.

– Por que razão haveriam vós de cometer um acto tão hediondo? – continuou o cavalheiro.

– Por algumas moedas para pôr na bolsa – respondeu o segundo viajante.

– Sereis todos enforcados, seus canalhas!

– É por justiça o nosso direito – concluiu o último dos homens.

E assim os três infelizes, pela sua própria boca, que lhes deu suposição de culpa, foram condenados por um crime que não cometeram e executados na forca sem réstia de piedade.




Tradicional.
(colectada por Robert Chambers em "Scottish Jests and Anecdotes", 1832.)









(Versão de Pedro Belo Clara baseada na edição de Neil Philip: "Scottish Folktales", Peguin Books, 1995.)













("John Murray, 4th Earl of Dunmore",
por Sir Joshua Reynolds (1765))