sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

PERGRIN E A SEREIA

 
Numa tarde de Setembro, um pescador chamado Pergrin encontrava-se perto da costa a remar no seu barco. De repente, pareceu-lhe ver uma mulher numa concavidade de um penhasco. Intrigado, decidiu ir a terra para verificar se não se tinha enganado. Aproximou-se do penhasco com cautela e, para seu espanto, numa das concavidades da rocha, estava uma donzela lindíssima, embora da cintura para baixo tivesse uma cauda igual à dos peixes.

A sereia estava tão absorta a pentear o cabelo, que nem reparou que alguém a observava. Pergrin ficou a olhar para ela e a admirá-la durante muito tempo. Depois, de repente, decidido a levá-la para casa, agarrou-a por um braço e meteu-a dentro do barco. Amarrou-a para que não fugisse e remou em direcção a casa. 

A sereia começou a chorar e a implorar que ele a libertasse. Mas Pergrin, embora delicado, não acedeu às suas súplicas e, chegando a casa, fechou-a num quarto. Tratava-a com carinho e desvelo, mas a sereia chorava todo o dia e passou a recusar comida e bebida. Todos os dias, pedia a Pergrin para a libertar, mas isso era algo que ele não queria fazer. À medida que o tempo foi passando, a sereia foi ficando cada vez mais magra e com ar doentio. Pergrin começou a ficar preocupado. 

Um dia, um amigo contou-lhe o que tinha acontecido a um homem que, tal como ele, tinha capturado uma sereia. Embora ela muito lhe pedisse para a libertar, ou, pelo menos, para a deixar colocar a sua cauda dentro de água, o homem recusou todos os pedidos e ela acabou por morrer. Antes, porém, a sereia amaldiçoou o seu raptor e a aldeia onde tinha ficado presa durante tanto tempo. Passadas poucas semanas, o homem morreu de um modo miserável, assim como miseráveis e pobres foram sempre os habitantes daquela aldeia. 

Pergrin ficou a pensar nesta história. Por isso, quando a sua sereia lhe pediu «Deixa-me ir, que, em troca, quando estiveres em perigo, darei três gritos para te salvar», Pergrin levou-a até ao mar e aí a devolveu às águas. Feliz, a sereia mergulhou nas profundezas.

Passaram muitos meses. Pergrin nunca mais viu a sereia. Um dia, porém, numa tarde límpida e quente, foi à pesca no seu barco e, com ele, também nos seus barcos, foram vários pescadores. O céu estava muito azul, sem a ameaça de uma única nuvem. Mas, de repente, a cabeça da sereia emergiu das águas e ele ouviu-a gritar por três vezes: «Pergrin, recolhe a tua rede e volta para casa.» 

Pergrin obedeceu de imediato. Mal acostou o barco, uma enorme e violenta tempestade abateu-se sobre o mar e levou consigo todos os pescadores que lá tinham ficado. Assim Pergrin regressou a casa, são e salvo. 




(Conto extraído de "Os Tylwyth Teg ou O Povo Belo".)












(Tradução de Angélica Varandas in "Mitos e Lendas Celtas do País de Gales", Clássica Editora, 2012.)












("A Mermaid",
de John William Waterhouse
(1849 - 1917))

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