segunda-feira, 5 de novembro de 2018

A RECOMPENSA DAS FADAS


Uma noite, quanto Ianto Llywelyn se preparava para ir para a cama, ouviu um barulho do lado de fora da sua casa. Abriu a janela e perguntou quem era.

Ouviu uma voz límpida e doce que respondeu:

«Queremos um quarto onde possamos vestir os nossos filhos.»

Ianto abriu a porta e viu, com os seus próprios olhos, uma dezena de pequenas criaturas a entrar em sua casa, carregando ao colo bebés minúsculos. Aí fiaram umas horas, lavando e vestindo os bebés e, antes de o galo anunciar a manhã, foram-se embora, deixando a Ianto, como recompensa pela sua generosidade, algumas moedas de ouro.

Depois deste episódio, Ianto passou a acender a lareira todas as noites e a deixar, em cima da mesa, pão, água e leite, tendo ainda o cuidado de tirar da sala tudo o que fosse de ferro, pois as fadas abominam o ferro. E todas as noites as fadas visitavam a sua casa para aí cuidarem dos seus bebés, oferecendo-lhe sempre em troca algumas moedas de ouro.

Ianto deixou de trabalhar e passou a viver apenas com o dinheiro das fadas. Os seus rendimentos eram tão grandes que decidiu casar-se com uma mulher chamada Betsi. Passado pouco tempo após o casamento, esta começou a ficar muito curiosa sobre o modo como o marido arranjava tanto dinheiro. Mas, por muito que lhe perguntasse qual a origem da sua riqueza, Ianto sempre guardou silêncio sobre as visitas das fadas. 

Betsi tornou-se cada vez mais insistente, embora Ianto lhe explicasse que se lhe revelasse o segredo nunca mais ganharia um tostão. Betsi, porém, desconfiada por o marido deixar sempre a lareira acesa e comida na mesa, logo adivinhou que eram as fadas. Desesperado, Ianto confirmou as suspeitas da mulher e saiu de casa para ir afogar a sua inquietação numas canecas de cerveja. Mas quando levou as mãos aos bolsos para pagar, as moedas tinham-se transformado em pequenos pedaços de papel.

Desde esse dia que as fadas nunca mais regressaram a casa de Ianto, pelo que ele teve de voltar a trabalhar e a ganhar dinheiro com o suor do seu rosto.








(Conto extraído de "Os Tylwyth Teg ou Povo Belo".)









(Tradução de Angélica Varandas in "Mitos e Lendas Celtas do País de Gales", Clássica Editora, 2012.)











(Ilustração de Kinuko Y. Craft, 1940 - ... )


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