sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

Dois poemas irlandeses anónimos



I. Dúvida


Por mim não sei nem quero saber
com quem vai dormir o moço garboso;
mas sei muito bem, de mui certa ciência,
que não é sozinho que à noite se deita.


(Século IX)






II. Desconfia dos homens


Falso amor é o amor dos homens,
mal da mulher que neles confia.
De falas doces, mui meigas,
nada revelam do seu coração.

Nos seus segredos não creias
e em suas mãos carinhosas.
Não creias no sabor dos beijos,
anúncio vil de males de amor.

Não creias que haja homem no mundo
que seja o destino de uma mulher.
Eu posso contar-te meu sofrimento,
a imensa dor que me atormenta.

Oferecem o ouro, oferecem a prata,
oferecem tesouros e pedras de preço.
Oferecem também casamento escrito,
mas tudo esquecem ao raiar do dia.

É inconstante o amor dos homens,
é ilusão de mim e de muitas.
A ninguém desejo a minha sorte,
mal da mulher que me segue os passos.


(Século XV ou XVI)





(Tradução de José Domingos Morais in "O Imenso Adeus - Poemas Celtas do Amor", Assírio & Alvim, 2004)








La Mélancolie,
Louis-Jean-François Lagrenéé (séc. XVIII)




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